Vendedora demitida por usar tranças afro vence ação e será indenizada em R$ 15 mil

'Tive várias crises de ansiedade e choro', diz a jovem Ana Gabriela BarrosImagem: Reprodução

A Justiça do Trabalho de Maceió determinou que a empresa Polibank Representante Autorizada LTDA pague R$ 15 mil de indenização por danos morais à vendedora Ana Gabriela Barros, 22, após concluir que ela foi demitida por discriminação racial. A decisão é da 9ª Vara do Trabalho da capital alagoana.

Segundo o processo, Ana Gabriela trabalhou na empresa entre outubro de 2024 e março de 2025 e relatou que passou a sofrer ataques discriminatórios depois de aparecer no trabalho com tranças afro no início de 2025.

Ana afirmou que a proprietária deu três dias para que retirasse as tranças — e, mesmo quando ela voltou a usá-las meses depois, foi novamente pressionada a desfazer o penteado. Ao se recusar, foi dispensada sem justa causa.

Durante o aviso prévio, a funcionária também foi impedida de atender clientes, sendo restrita a captar contatos e fazer panfletagem. O período foi marcado por forte desgaste emocional. “Sabia que aquilo não era sobre profissionalismo, mas sobre racismo”, disse Ana Gabriela.

A defesa da empresa negou a prática discriminatória, alegando possuir políticas gerais de aparência, além de afirmar que o desempenho da funcionária era baixo. A empresa não respondeu aos questionamentos da imprensa.

O juiz Emanuel Holanda Almeida aplicou o Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial, do CNJ, e concluiu que exigir que a vendedora retirasse as tranças, sob justificativas de “padrão da empresa”, caracteriza discriminação indireta. Segundo o juiz, o episódio evidenciou racismo estrutural mascarado por normas internas. Além disso, a própria proprietária confirmou condicionar contratações à aceitação prévia das regras sobre cabelo, reforçando a política discriminatória.

Na sentença, o juiz destacou que Ana Gabriela foi submetida a “profundo constrangimento, humilhação e violação à dignidade”.

Atualmente, a jovem vive com a irmã, trabalha como modelo e participa de projetos sociais voltados a pessoas negras da periferia. Após o caso ganhar repercussão nas redes, ela recebeu convite para trabalhar em uma loja de roupas e acessórios.

Embora considere o valor de R$ 15 mil baixo, Ana Gabriela afirma estar aliviada: “É uma vitória para mim e para outras pessoas. A única forma de combater o racismo é denunciando. Nosso cabelo não define nosso profissionalismo.”

Fonte: Mais Goiás 

0 Comentários