Brasil registra recorde de feminicídios e especialistas alertam para cultura de violência

O feminicídio atingiu sua marca histórica no Brasil em 2024. O Fantástico conversou com a família de Tainara — que foi atropelada, arrastada pelo ex-namorado e teve as duas pernas amputadas — e com especialistas que explicam por que o país continua tão violento para as mulheres.

Divulgação 

Denise, grávida de oito meses, assassinada pelo marido em Campinas (SP).
Maria José, morta a facadas pelo companheiro na frente dos filhos, no Distrito Federal.
Adriana, asfixiada pelo marido em São José da Coroa Grande, em Pernambuco.
E em São Paulo, outro caso que chocou o país nesta semana:

Tainara Souza Santos, de 31 anos, atropelada e arrastada pelo carro de Douglas Alves da Silva. O Fantástico deste domingo (7) conversou com a mãe da vítima e com especialistas que discutem por que tantos homens continuam tão violentos com mulheres no país.

O feminicídio atingiu sua alta histórica no ano passado: 1.492 casos, média de quatro mulheres assassinadas por dia. Os principais agressores: companheiros e ex-companheiros. O recorde ocorreu no mesmo ano em que a pena ficou ainda mais dura: hoje, quem comete feminicídio pode ser condenado a até 40 anos de prisão.

“A gente está vivendo uma escalada nos casos de violência contra a mulher, de forma mais específica com relação ao feminicídio”, explica Juliana, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A violência física é feita com requintes de crueldade… Não basta matar a mulher. É preciso humilhar, subjugar e colocá-la em situação de completa violação de direitos.”

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou publicamente o caso de Tainara:

“A violência contra a mulher é um problema de homem, não de mulher… Precisamos criar vergonha e aprender a respeitar.”

Leis de proteção às mulheres no Brasil ainda não são efetivas

O Brasil é historicamente um país perigoso para as mulheres. Após mobilização de movimentos feministas, foi criada há 19 anos a Lei Maria da Penha, principal ferramenta de combate à violência contra a mulher.

Desde então, houve avanços:

  • 2015 — reconhecimento do feminicídio e aumento das penas.
  • 2018importunação sexual virou crime.
  • 2021 — criação da tipificação de violência psicológica contra a mulher.

Apesar disso, especialistas afirmam que ainda há forte foco na repressão e pouca atuação nas causas estruturais da violência.

Para muitas mulheres, a violência começa antes de elas perceberem, e o sistema de justiça muitas vezes falha em oferecer proteção adequada.

A ministra do STF, Cármen Lúcia, reforça que é urgente a criação de uma rede unificada de apoio às vítimas:

“É preciso prevenir e acolher mulheres vulnerabilizadas, prevenindo crimes e violências.”

Ela também destaca a importância da educação de crianças e jovens para transformar a cultura de violência do país.

Casos recentes reforçam padrão de violência extrema

Diversas cidades registraram episódios graves nos últimos anos, muitos com a mesma dinâmica: violência motivada por controle, ciúmes e tentativas de impedir o término do relacionamento.

  • Belém (PA) — Graziela foi arrastada por mais de 200 metros pelo carro do namorado, o médico Felipe Almeida Nunes.
  • São Paulo (SP) — Douglas Alves, que atropelou e arrastou Tainara por 1 km, já havia sido preso em 2023 por porte de arma.

(Com Fantástico)

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