Ao decretar o fechamento do espaço aéreo venezuelano, Donald Trump sinaliza para o início da agressão militar em larga escala, em meio à inação da comunidade internacional. O imperialismo, tal como era conhecido no século XIX, já não é possível, e a única questão é saber se será sepultado de forma pacífica ou em sangue, como disse Leonard Woolf em 1981.
Os Estados Unidos jamais deixaram de intervir – aberta ou veladamente – na América Latina. Desde 1823, com o lançamento da Doutrina Monroe (“A América para os americanos”), as tropas estadunidenses realizaram incontáveis intervenções, invadindo países soberanos, derrubando presidentes e impondo tratados coloniais na ponta do fuzil. Agora, sob a gestão ultraconservadora de Donald Trump, esse viés belicista ganhou novos e mais ameaçadores contornos.
Não é preciso ir muito longe na história para elencar um longo e sangrento caminho de guerras de agressão contra os americanos localizados abaixo do Rio Grande. Se o recorte for apenas os últimos 70 anos, teremos, pela ordem: a invasão da Baía dos Porcos e a implantação do bloqueio a Cuba, em 1961; o golpe militar no Brasil e a Operação Brother Sam, em 1964; a invasão da República Dominicana, 1965; a deposição de Salvador Allende, no Chile, em 1973; a invasão de Granada, em 1983; a derrubada de Manoel Noriega, no Panamá, em 1989; a invasão do Haiti, em 1994, para citar as principais ocorrências.
Diante dessa extensa folha corrida de crimes e violações, somente um estado elevado de ingenuidade pode supor que as manobras de Trump contra a Venezuela sejam apenas jogo de cena. Efetivamente, tudo indica que os preparativos que se realizam há meses, com forte deslocamento de um dispositivo militar que nunca se viu em águas caribenhas, fazem parte de um plano de invasão territorial com vista a derrubar o governo de Nicolás Maduro, tudo sob o olhar inerte e intimidado da comunidade latino-americana.
Quais as consequências dessa agressão tão anunciada? Haverá resistência por parte do regime e do povo da Venezuela, após tantos anos de desgaste e de cerco econômico e midiático?
A única certeza é que, confirmada a agressão militar, nada faz supor que a Casa Branca se limitará à Venezuela e a suas inimagináveis reservas de petróleo e gás. Com a porta arrombada, o que impedirá que o próximo alvo seja a Colômbia, depois o Peru, a Bolívia e, quem sabe, a Amazônia brasileira?
Denunciar as manobras ilegais dos Estados Unidos e sua iminente agressão contra um país latino-americano que possui extensa fronteira com o Brasil deve ser um imperativo, capaz de mobilizar o nosso Estado nacional e um amplo leque de forças políticas que tenham o mínimo compromisso com a defesa da pátria.
Fica a lição de que as notas diplomáticas escritas em seus termos elegantes e anódinos já não dão conta de absolutamente nada e sequer arranham a férrea e insana determinação da Casa Branca em nos reduzir a seu “pátio trasero”, como no tempo da tal diplomacia das canhoneiras.

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