Pará concentra seis das cidades mais violentas da Amazônia, aponta estudo do Fórum de Segurança Pública

Segundo o estudo, Cumaru do Norte, Novo Progresso e Mocajuba estão entre os municípios amazônicos com maior letalidade violenta.Autoridades do Pará fiscalizam área desmatada na Amazônia em Pacajá, a 620 km de Belém, em 22 de setembro de 2021 — Foto: Evaristo Sá/AFP

O Pará aparece com destaque negativo no novo estudo Cartografias da Violência na Amazônia 2025, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), nesta quarta-feira (19). O levantamento identifica municípios paraenses entre os mais violentos de toda a Amazônia Legal, revelando um território marcado por disputas fundiárias, avanço de facções criminosas, conflitos rurais e forte pressão de economias ilegais.

Segundo o estudo, Cumaru do Norte, Novo Progresso e Mocajuba estão entre os municípios amazônicos com maior letalidade violenta. Além deles, São Félix do Xingu, Altamira e Itaituba aparecem como áreas críticas, reforçando a presença profunda e diversificada da violência no estado.

Cumaru do Norte: explosão de conflitos rurais e violência armada

Cumaru do Norte figura entre os primeiros colocados no ranking de violência da Amazônia Legal. O FBSP aponta que o município sofre a combinação de fatores explosivos: intensificação do garimpo ilegal, grilagem de terras, expansão de milícias rurais e crescimento do tráfico de drogas em rotas próximas ao eixo sul do Pará. Em um território onde a presença do Estado é mínima, pistoleiros, grileiros e garimpeiros impõem regras, aumentando a sensação de medo e insegurança entre trabalhadores rurais, indígenas e pequenos agricultores.

Cortada pela BR-163, Novo Progresso tornou-se, segundo o estudo, uma das principais portas de entrada e circulação de economias ilegais na Amazônia. A região é marcada pela presença de madeireiros, garimpos clandestinos e grupos criminosos articulados com redes de tráfico. O relatório aponta que facções nacionais e grupos locais disputam áreas rurais e pontos estratégicos da rodovia, que conecta o Pará ao Mato Grosso, reforçando a dinâmica de violência armada, extorsões e homicídios.

Mocajuba: corredor fluvial vulnerável a facções e pirataria

Localizada no Baixo Tocantins, Mocajuba aparece entre as cidades com maior risco para a população ribeirinha. O estudo destaca que o município está inserido em rotas fluviais usadas para o transporte de drogas e armas, além do aumento de casos de pirataria de rios. A presença de facções criminosas se consolida por meio de domínios territoriais em áreas periféricas e comunidades isoladas, onde o Estado raramente chega.

São Félix do Xingu: violência ligada ao desmatamento e disputa por terra

Maior município do Brasil em extensão territorial, São Félix do Xingu sofre há décadas com conflitos agrários, invasões de terras indígenas, avanço do desmatamento e consolidação de organizações criminosas vinculadas ao garimpo. O estudo reforça que o município é um dos epicentros da violência rural na Amazônia, convivendo com pistolagem, assassinatos por disputa de terra e uma rede ilegal que conecta garimpos a grupos armados.

Altamira: violência urbana e rural em uma mesma cidade

Altamira reaparece entre as cidades mais violentas, repetindo dados de estudos anteriores do FBSP. A violência extrema se concentra tanto na área urbana — marcada pela presença de facções, tráfico de drogas e conflitos em bairros periféricos — quanto na zona rural, onde se intensificam crimes ambientais, grilagem e ameaças a lideranças indígenas e comunitárias. O estudo destaca que Altamira é um ponto estratégico da logística do crime na Transamazônica.

Itaituba: garimpo ilegal impulsiona explosão de crimes

Itaituba, polo do garimpo ilegal na Amazônia, é descrita como uma cidade sob forte influência de quadrilhas que exploram ouro, controlam portos clandestinos e operam rotas fluviais até o Amazonas e o Amapá. A violência está relacionada a lavagem de dinheiro, tráfico de armas, homicídios ligados a disputas entre garimpeiros e grupos rivais, e presença crescente de facções.

Pará vive “territorialização do crime”, alerta o estudo

O Fórum de Segurança Pública conclui que o Pará vive um processo acelerado de “territorialização do crime”: facções e grupos armados – urbanos e rurais – transformam áreas inteiras em zonas de controle, explorando a fragilidade do Estado e a ausência de políticas estruturantes.

Da fronteira sul ao Baixo Tocantins, passando pela Transamazônica e pelo eixo do garimpo, o estado reúne diferentes formas de violência que se retroalimentam, colocando comunidades tradicionais, trabalhadores rurais, mulheres, jovens negros e ribeirinhos entre os grupos mais vulneráveis. 

(Erika Marinho-Estagiária, com Ponto de pauta)

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