Governo não mandou ninguém; avaliação de Jonathan Overpeck é de que país poderia influenciar a conferência
Ausência de Trump foi boa para a COP30, diz cientista climático (Foto: Casa Branca)A COP30 se encerrou em Belém neste sábado (22) em meio a uma ausência gritante. Os Estados Unidos, um dos maiores poluentes do mundo, não enviaram uma delegação oficial à cúpula do clima. E nem todos sentiram sua falta.
“Não ir à cúpula significa que a administração de Donald Trump não pôde influenciar tanto o resultado da conferência”, diz o cientista climático americano Jonathan Overpeck, decano da faculdade de ambiente e sustentabilidade da Universidade de Michigan. “Isso é bom.”
Overpeck foi um dos autores de um relatório sobre a mudança climática que, em 2007, rendeu ao IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) o Prêmio Nobel da Paz. Sob Trump, diz, os EUA têm priorizado as energias de fontes fósseis (mais poluidoras) e escanteado a agenda climática. Um exemplo desse posicionamento é a própria decisão de não ir a Belém. É a primeira vez que Washington falta à cúpula, iniciada em 1995.
“É contraintuitivo que, ao não enviar representantes, os EUA acabem por promover a descarbonização”, afirma Overpeck. “Houve menos esforço por parte dos americanos para desacelerar a COP30.”
Trump justifica suas decisões sobre o clima como uma forma de proteger a indústria americana. Sob o lema “America First” (os Estados Unidos primeiro), o republicano chegou a retirar o país do Acordo de Paris durante seu primeiro mandato. Seu sucessor, Joe Biden, voltou a aderir aos acordos. Reeleito, porém, Trump anunciou novamente a saída.
O Acordo de Paris, de 2015, estabelece metas para reduzir o aquecimento climático. O processo de saída leva um ano a partir da notificação do país. Trump assinou a medida em janeiro deste ano, ao tomar posse, o que significa que só passará a valer em janeiro de 2026.
O fato de os EUA não terem enviado uma delegação oficial não quer dizer que não tenham participado do evento, porém. Cerca de cem americanos integraram uma delegação informal em Belém. Entre eles estavam governadores, prefeitos e representantes da sociedade civil.
O nome de maior peso era o do democrata Gavin Newsom, governador da Califórnia — e potencial candidato à Presidência. O fato de a delegação informal ter contado com tantos políticos de renome evidencia uma espécie de cisão no poder americano quanto à forma de tratar do clima.
“Enquanto Trump se ausenta do palco mundial, a Califórnia está presente liderando, formando parcerias e demonstrando a liderança climática americana”, disse Newsom. Já o senador democrata Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, afirmou que o governo Trump “simplesmente não representa os americanos nas questões ambientais”.
Outros políticos americanos importantes presentes na COP30 incluem os governadores Tony Evers e Michelle Lujan Grisham, de Wisconsin e do Novo México, respectivamente. Foi para Belém também o ex-vice-presidente Al Gore, que, desde sua campanha à Presidência dos Estados Unidos em 2000, na qual quase venceu, tem se dedicado ao meio ambiente.
Overpeck diz que, apesar da guinada sob Trump, as ações em prol do clima “estão longe de estarem mortas” nos EUA. Em nível estadual e municipal, governos vêm investindo em tecnologias para substituir combustíveis fósseis. Cita como exemplo a proliferação de veículos elétricos, que têm se tornado cada vez mais comuns no país.
“Isso é mais visível na Califórnia, mas todos os estados estão comprometidos com a redução de suas emissões de carbono”, afirma Overpeck. Isso vale inclusive para os estados republicanos, diz. Redutos trumpistas, como o Texas, têm usado cada vez mais energias renováveis.
Quanto à presença de prefeitos na delegação informal — como os de Phoenix, Annapolis e Savannah — Overpeck sugere que, cada vez mais, as questões climáticas serão discutidas no nível municipal. “É nas cidades que as pessoas vivem e votam, e é onde estão vendo os benefícios de ter um ar mais puro e menos catástrofes climáticas”, diz.
Ainda que alguns tenham celebrado a ausência americana na COP30, outros acreditavam que poderia ter um efeito simbólico negativo. “Quando os EUA se retraem, como fizemos, liberam outros países da pressão de adotar as medidas que tinham prometido adotar”, afirmou o ex-secretário de Estado John Kerry em entrevista à rede americana PBS.


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