O levantamento mostra que mais da metade da população mundial, cerca de 4,2 bilhões de pessoas, vive hoje em países classificados como estando em “crise”, o patamar mais grave do índice.
O Brasil, embora tenha apresentado melhora e subido duas categorias, ainda enfrenta desafios significativos, especialmente no Norte do país.
De acordo com o relatório, 46 países registraram retrocessos no direito à liberdade de expressão no último ano, enquanto apenas 5 avançaram.
O Brasil foi destaque positivo, ao saltar da categoria “restrito” para “aberto”, com um avanço de 26 pontos no indicador.
Leia mais:Liberdade de imprensa é valorizada no Brasil, mas apoio popular recua nos últimos 10 anos
Mesmo assim, a América Latina segue marcada por instabilidade: Equador e Bolívia regrediram, e episódios de censura e ataques à imprensa continuam frequentes em várias nações da região.
O estudo também aponta que a pontuação média global para liberdade de expressão estagnou, após uma década de declínio.
Isso significa que, apesar de algumas melhoras pontuais, o ambiente para o exercício da imprensa livre segue altamente ameaçado. Entre os países que mais perderam pontos estão Burkina Faso, Mongólia, Senegal e a Índia, que entrou na categoria de “crise”.
A jornalista e analista da Article 19, Quinn McKew, afirmou que “há um padrão global de repressão e silenciamento, inclusive em democracias estabelecidas. Esse padrão é agravado por desinformação, vigilância em massa e ataques a jornalistas”.
Cenário no Brasil e no Norte
No Brasil, o avanço registrado se deve à reversão de medidas autoritárias, maior transparência institucional e à diminuição de episódios de censura oficial. Ainda assim, o país não está livre de riscos.
Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entre janeiro de 2023 e maio de 2024 foram registrados mais de 280 ataques a jornalistas no país, incluindo agressões físicas, ameaças, assédio judicial e campanhas de desinformação.
Na Região Norte, o cenário é ainda mais preocupante. Um levantamento da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), publicado em abril de 2024, revelou que 189 municípios da Amazônia Legal não contam com imprensa ativa, ou seja, não há jornais, rádios ou TVs com cobertura regular.
“A ausência de imprensa local torna essas regiões mais vulneráveis à corrupção, ao crime organizado e à desinformação”, afirma o pesquisador Carlos Affonso de Souza, do ITS-Rio.
Além disso, o acesso à informação e à conectividade é limitado em áreas remotas, o que dificulta o trabalho de jornalistas e a livre circulação de conteúdos. No Pará e no Amazonas, profissionais da imprensa relataram dificuldades para cobrir temas relacionados a conflitos agrários, crimes ambientais e violações de direitos humanos em áreas isoladas.
Violência contra jornalistas segue alta
A violência também permanece como obstáculo à liberdade de imprensa no Brasil. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 86 profissionais foram vítimas de agressões ou ameaças em 2023.
Em grande parte dos casos, os ataques vieram de autoridades locais ou simpatizantes políticos em eventos públicos.
As redes sociais também têm sido palco frequente de campanhas de deslegitimação contra profissionais da comunicação, principalmente mulheres e jornalistas negros.
Para a presidente da Fenaj, Samira de Castro, “a violência contra jornalistas não é apenas um ataque individual, mas um atentado ao direito coletivo à informação”.
Ela defende uma legislação mais rigorosa para proteger a imprensa, além de medidas educativas para fortalecer a cultura democrática.
Liberdade de expressão como direito coletivo
O Global Expression Report 2024 reforça que a liberdade de imprensa deve ser compreendida como um direito coletivo e pilar essencial das democracias.
Países onde esse direito é limitado tendem a registrar retrocessos em outros indicadores, como transparência, combate à corrupção, direitos civis e confiança institucional.
O Brasil tem agora a oportunidade de consolidar o avanço conquistado, ampliando o acesso à informação em todas as regiões e protegendo seus profissionais.
“A imprensa livre é vital para a democracia, especialmente em um país com as desigualdades e os desafios geográficos do Brasil”, conclui Quinn McKew.
0 Comentários