Imagens de satélite indicam que lama dos garimpos de afluentes do Tapajós está visível em Alter do Chão no Pará

Após analisar imagens, MapBiomas destacou que a cheia anual do rio Amazonas também contribui com a mudança de cor do Tapajós na altura de Alter do Chão.
Fotografia aérea feita em janeiro mostra águas barrentas do Tapajós em contato com o Lago Verde, em Alter do Chão, Santarém, no Pará — Foto: Getty Images via BBC

Imagens de satélite de alta resolução analisadas pelo consórcio MapBiomas indicam que a lama dos garimpos de afluentes do Tapajós — como o Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu — está por trás da pluma de sedimentos que tomou o rio neste ano e é visível em todo seu baixo curso até a foz, inclusive em Alter do Chão, balneário distante 37km da zona urbana de Santarém, no oeste do Pará.

Nos últimos meses, a coloração da água do Tapajós passou de azul-esverdeada para barrenta, piorando a partir de meados de dezembro de 2021, quando uma grande faixa junto à Ilha do Amor, principal praia de Alter do Chão, passou a apresentar coloração turva.

“Mudanças na coloração das águas do Tapajós e de sua foz estão se tornando cada vez mais frequentes e mais intensas, e coincidem com expressivo avanço da atividade garimpeira na região”, afirmou o MapBiomas, em nota técnica publicada nesta segunda-feira (24).
Rio Tapajós tomado por pluma de sedimentos de garimpos — Foto: Observatório do Clima

Mas, o consórcio ressalta que a cheia anual do rio Amazonas também contribui para a mudança de cor do Tapajós na altura de Alter do Chão. Os dois rios se comunicam na foz do Tapajós, e os sedimentos do Amazonas, um rio naturalmente barrento, também invadem a foz do Tapajós que sempre foi conhecido por suas águas cristalinas.

Mesmo considerando o fenômeno das cheias dos rios, o Mapbiomas diz que só que a opacidade cíclica e natural nessa época de início da rápida subida do nível da água não basta para explicar as alterações vistas em Alter do Chão e em outros pontos do rio neste ano.
Imagens de satélite mostram pluma de sedimentos de garimpos no curso do rio Tapajós — Foto: Observatório do Clima

Conforme relatório do consórcio, nas imagens de satélite de 3 metros de resolução, da constelação americana Planet, é possível ver a pluma de lama tomando o Tapajós mesmo em julho, mês de seca, quando não há influência do Amazonas. A comparação entre rios com garimpo (como o Cabitutu) e rios sem garimpo (como o Cadarini) não deixa dúvida.
Imagens de satélite mostram o avanço da pluma de sedimentos dos garimpos no rio Tapajós em julho de 2019, 2020 e 2021 — Foto: Observatório do Clima

O relatório destaca que um sobrevoo do rio desde seu curso médio até a foz confirma as imagens de satélite. No sobrevoo foi possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro. Na altura da cidade de Itaituba, "capital brasileira do ouro ilegal", o rio Tapajós fica opaco, e essa turbidez avança até a foz.

Na região do Tapajós, de acordo com o MapBiomas, o aumento do garimpo foi de 223% nesse período. A área adicional diretamente impactada pelo garimpo é equivalente à de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

Segundo estudo do Instituto Socioambiental, no médio Tapajós, desde 2019 é nítido o avanço do garimpo na região. Apenas na TI Munduruku, cresceu 363% nos últimos três anos.

O consórcio de instituições ambientais avalia que esse avanço da mineração de ouro nas área de proteção se deve, em parte, ao fato da fiscalização do Ibama ter sido fragilizada nesse período. E pode ficar ainda pior, já que tramita na Câmara um projeto de lei para abrir todas as terras indígenas do país ao garimpo e à mineração industrial.
Para chegar ao ouro, os garimpeiros reviram fundo dos rios com dragas ou desviam, cavando barrancos enormes com pás carregadeiras — Foto: Observatório do Clima

Para chegar ao ouro, os garimpeiros reviram fundo dos rios com dragas ou desviam seu curso, cavando barrancos enormes com pás carregadeiras. A destruição pode se estender por quilômetros do curso do rio. Em todos os casos, a lama é descartada na própria água, a jusante da exploração (no sentido da correnteza do rio).

Fonte: G1 Santarém 

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