PT perde redutos municipais para forças partidárias aliadas de governadores

 
Na Bahia, DEM de ACM Neto desbancou o PT (Foto: Angelo Pontes/Agecom-PMBA)
Por Felipe Bächtold, da Folhapress


SÃO PAULO – O espólio de antigos territórios petistas nos municípios do país ficará a partir de janeiro sob influência de forças regionais de diferentes partidos, geralmente alinhadas com os governadores.

Do auge vivido em 2012, quando elegeu 650 prefeitos Brasil afora, o partido se retraiu agora para 183 cidades – queda de 72% em oito anos. Municípios que deram a vitória ao PT naquele ano agora elegeram, por exemplo, tucanos em São Paulo, o PSD no Paraná e o MDB no Pará.

São siglas que ganharam força nos municípios impulsionadas pela permanência no governo do estado – que, pela força política imposta, tende a atrair para o seu lado candidatos competitivos. Em pelo menos seis cidades, prefeitos que se elegeram pelo PT há oito anos voltaram a ganhar agora, mas por outros partidos.

Este levantamento da reportagem compara a situação atual com a de 2012 porque aquele foi o ano em que o PT mais conseguiu se espalhar pelo país em eleições municipais – e que coincidiu com o ápice da popularidade do partido na Presidência da República. No pleito municipal de 2016, o PT já estava em declínio e encolheu à época 60% na quantidade de prefeitos eleitos.

A Bahia é um dos casos mais expressivos da mutação dos antigos territórios petistas. Mesmo tendo o governador desde 2007, o partido não conseguiu mais fazer frente a outras forças políticas no interior e passou de mais de 90 prefeituras obtidas há oito anos para 32 agora.

Curiosamente quem capturou a maior parte desse espólio foi um aliado do PT baiano, o PSD, que tem no estado o senador Otto Alencar o principal líder. Outros beneficiários foram o DEM, do prefeito de Salvador, ACM Neto, e o PP.

Em São Paulo, tinham sido 74 prefeituras conquistadas em 2012 ante apenas 4 agora – incluindo dois municípios grandes da região metropolitana da capital, Diadema e Mauá.

Vinte das antigas cidades do PT paulista irão a partir de 2021 para o PSDB, partido hegemônico no estado desde os anos 1990. Também se aproveitaram do encolhimento o DEM e o MDB. No Sul do país, conhecido por ter se tornado um reduto antipetista ao longo da década, forças locais mais tradicionais também cresceram à custa do enfraquecimento petista.

No Rio Grande do Sul, que chegou a eleger governadores do partido em duas ocasiões, a quantidade de prefeitos eleitos caiu de 72 em 2012 para 23, agora. Quem se beneficiou com isso foram o MDB, PP e PDT, três agremiações de capilaridade histórica na região.

Uma das maiores cidades do estado, Canoas, de 348 mil habitantes, será governada por um ex-prefeito pelo PT. Filiado desde os anos 1980, Jairo Jorge da Silva se projetou como aliado do ex-governador Tarso Genro, mas decidiu trocar de legenda durante a crise de 2016. Passou pelo PDT e agora se elegeu pelo PSD.

Eleitos em 2012 pelo PT e que hoje estão no PSD também venceram na paulista Joanópolis, na paranaense Cruz Machado e na paraense Itupiranga. Conhecido pela proximidade com o bloco parlamentar do centrão, o PSD (que nega, no entanto, fazer parte dele) ficou em terceiro lugar no ranking de eleitos pelo país.

Em Agrolândia (SC), o eleito, ex-prefeito petista, foi para o PP. Em São Sebastião da Boa Vista (PA), o vencedor da disputa se mudou para o PL. Em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, ao menos 20% dos prefeitos que tinham sido eleitos pelo partido haviam deixado a sigla.

Mesmo com quatro vitórias seguidas nas eleições presidenciais, o PT sempre teve dificuldade histórica de ampliar seus domínios no âmbito dos municípios.

No quesito, o MDB tradicionalmente possui mais capilaridade e alcance. Neste ano, novamente foi o primeiro no ranking de prefeitos eleitos. Pela primeira vez desde a redemocratização, o PT não venceu em nenhuma capital –ainda concorre em Macapá (AP), onde a eleição foi adiada no início do mês por causa de um apagão. Não fez prefeitos em quatro estados: Amapá, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Roraima.

A partir de 2021, a Bahia será o principal estado com prefeituras petistas, em 32 cidades. Anteriormente, era Minas Gerais, onde o partido agora só fez 28 prefeitos –3% do total do estado. Houve um forte recuo até em um dos principais redutos eleitorais petistas no país, o Piauí, onde o governador Wellington Dias está em seu quarto mandato.

No estado, o presidenciável Fernando Haddad teve 77% dos votos válidos no segundo turno de 2018, marca mais alta dele no país. O PT fez 24 prefeituras no Piauí neste ano, com um saldo negativo de 14 em comparação com a eleição municipal de 2016.

Nos estados onde cresceu, a alta foi pouco expressiva. No Ceará, governado pelo também petista Camilo Santana, o partido subiu de 15 para 18 prefeitos. Também subiu no Sergipe (+3), Tocantins (+2) e Rio Grande do Norte (+1).

No estado do Rio, terceiro colégio eleitoral do país, foi apenas um prefeito eleito, em Maricá.

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